MEHET-WERET (grande inundação)

Esta obra contém simbolismo e chaves de interpretação que estão enraizadas em estudos de viés teosófico, filosófico e textos sagrados. Para compreendê-las mais profundamente, é necessário mergulhar nesses conhecimentos, explorando conceitos espirituais e metafísicos presentes em tradições universais. Estás convidado à explorar com curiosidade e abertura, pois cada detalhe possui camadas de significado que vão além da superfície.


"Eu sou aquele que criou a si mesmo a partir das águas do caos".

| Texto dos sarcófagos Egípcios |

Na cosmogonia egípcia, Nun é descrito como o oceano primordial, a substância indiferenciada que existia antes de qualquer criação. Ele é o abismo sem forma, sem limites, o potencial absoluto que contém todas as coisas em estado latente. Nun é o ponto de origem, mas também o vazio infinito onde o universo repousava antes de emergir. Nesse sentido, ele se alinha ao conceito de Absoluto encontrado na filosofia hermética e teosófica, representando o Primeiro Logos: a unidade imutável e transcendente, de onde tudo deriva, mas que permanece acima de todas as distinções.

“Pois havia uma escuridão ilimitada no abismo e água, e um espírito sútil e inteligente que permeava as coisas no caos por poder divino”.

| III - Discurso sagrado de Hermes em Corpus Hermeticum |

Nun representa a transcendência pura, ele é um estado além de qualquer manifestação, mas, paradoxalmente, carrega em si a possibilidade de todas as manifestações. No Hermetismo, isso ecoa o axioma “Tudo é Mente”, onde a criação material é uma projeção do mental. Na teosofia, o Primeiro Logos é a consciência divina que ainda não se dividiu, sendo a essência imortal e ilimitada.

A cruz rodopiante, ou suástica, aparece em diversas culturas antigas como um símbolo da dinâmica cósmica. Ela representa o movimento, a energia criativa que emerge do estado de repouso absoluto. No contexto egípcio e teosófico, podemos relacioná-la ao Segundo Logos, a energia que transforma o potencial do Nun em um ato criativo. Essa “dança cósmica” simboliza o fluxo de energia que organiza o caos e dá origem à ordem. A suástica não é apenas um símbolo de movimento; é também o reconhecimento de que todo progresso seja ele espiritual ou material surge do equilíbrio entre opostos, refletindo a natureza cíclica e harmoniosa da criação.

Dentro dessa dinâmica criativa, encontramos Mehet-Weret, a “Grande Inundação”, como o princípio criador que impulsiona a existência. Ela é vista como a manifestação do impulso primordial que dá forma ao universo, carregando o sol em seu dorso e inaugurando o ciclo do tempo e da matéria. Em termos teosóficos, ela pode ser interpretada como o Terceiro Logos, a inteligência divina que organiza a energia bruta em formas definidas. Mehet-Weret não é apenas uma deidade criadora; ela simboliza a interação entre a intuição espiritual e a expressão material.

O TAO que pode ser pronunciado não é o TAO eterno. O nome que pode ser proferido não é o Nome eterno.

Ao princípio do Céu e Terra, chamo de “não ser”.  A mãe dos seres individuais chamo de “ser”.

Dirigir-se para o “não-ser” leva à contemplação maravilhosa da Essência;

Dirigir-se para o Ser leva à contemplação das limitações espaciais”.

| 1º Aforismo Tao Te King |

Nun, no contexto metafísico-taoísta, pode ser entendido como Wuji, o vazio absoluto e ilimitado, o potencial primordial que precede toda dualidade. De Wuji emerge Taiji, a manifestação harmoniosa do TAO como Yin e Yang. Neste simbolismo, Yang representa o caos cósmico em estado latente, enquanto Yin reflete o propósito subjacente à criação. Wu-Wei, ou a não-ação consciente, se alinha a Mehet-Weret, sendo ela o reflexo harmonioso do Tao que opera silenciosamente na transformação do potencial em manifestação.

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”

| Gênesis 1:2 |

Assim, o mito da criação egípcia não é apenas uma narrativa sobre a origem do universo, mas uma jornada simbólica que reflete a nossa própria evolução. De Nun, a essência transcendente, passando pela cruz rodopiante, que dinamiza o potencial em movimento, até Mehet-Weret, que molda a energia em manifestações tangíveis, somos convidados a reconhecer que a criação é tanto um evento universal quanto um processo interno.

Por fim, podemos perceber uma correspondência essencial entre as tradições espirituais ao considerar que "Sarvam Khalvidam Brahma" — "Tudo isso é Brahman" — e o versículo bíblico que menciona o Espírito de Deus movendo-se sobre as águas revelam uma mesma ideia: o universo manifesta uma essência única e indivisível. Mesmo quando descrito em linguagens distintas, esse princípio nos lembra que somos intrinsecamente parte dessa unidade, uma expressão viva do cosmos.


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