THOTH (O primeiro pontífice)

Esta obra contém simbolismo e chaves de interpretação enraizadas em estudos teosóficos, filosóficos e textos sagrados. Para compreendê-las plenamente, recomenda-se a leitura prévia das obras anteriores, pois cada uma constrói sobre os fundamentos estabelecidos anteriormente. Aprofundar-se nesses conhecimentos espirituais e metafísicos permitirá uma percepção mais clara das camadas de significado ocultas nesta jornada. Estás convidado a explorar com curiosidade e abertura, pois cada detalhe revela algo além da superfície.


"Intelectualismo é apenas uma dissimulação para o medo da experiência direta" - Carl Gustav Jung

O deus egípcio Thoth, conhecido como Djehuty pelos antigos egípcios, é a personificação do conhecimento divino e da harmonia cósmica. Representado de diversas formas, sua iconografia reflete os múltiplos aspectos da consciência humana e seu papel como mediador entre o visível e o invisível. Entre essas representações, A’an, sua forma como babuíno, simboliza a intuição e a conexão com os ciclos lunares, evidenciando seu papel de mediador entre os domínios celestiais e terrenos. A lua, assim como a mente intuitiva, ilumina os caminhos ocultos, trazendo revelações que transcendem a lógica linear. O aspecto lunar de Thoth ressalta sua função como transmissor da sabedoria divina, onde a intuição serve como guia para a compreensão dos mistérios mais profundos da existência.

"Aquele que se conhece a si mesmo conhece o Todo"  - Corpus Hermeticum

A manifestação física de Thoth também é marcada por sua coroa Hemhem e pelo Uraeus, ambos elementos que carregam significados ocultos essenciais. A coroa Hemhem, associada ao poder e à manifestação, representa a força espiritual que se concretiza no mundo material. Já o Uraeus, fragmentado em três esferas, simboliza a tríade de aspectos mentais metafísicos da alma humana: a mente concreta (Manas Inferior), a mente superior (Buddhi-Manas) e a centelha divina (Atman). Esses elementos revelam a ponte entre a consciência individual e a consciência cósmica, destacando Thoth como o arquétipo da sabedoria que sintetiza os ensinamentos do Oriente e do Ocidente. Dessa forma, sua figura se torna a chave para compreender a relação entre o ser humano e o divino, sendo a base para os ensinamentos teosóficos que unem as tradições universais ao longo do tempo.

"O Espírito, ó tu, duas vezes nascido!, é aspecto principal do Brahma Supremo."

| Devi Bhagavatam -Livro 12; Capítulo 8 |

A tábua de escrita de Thoth representa o registro do conhecimento primordial, um reflexo da inteligência cósmica que molda o universo. No contexto platônico, podemos compreender essa simbologia a partir da relação entre o Ser e o Devir: o ponto branco, símbolo da essência imutável, representa o mundo das Ideias, onde os arquétipos perfeitos residem; já o ponto preto, símbolo do movimento e da transformação, expressa o fluxo incessante da realidade manifestada. Entre esses dois polos, o Olho de Hórus ocupa a posição central, simbolizando a faculdade intelectiva – aquela que capta e compreende as realidades superiores, traduzindo-as em formas compreensíveis. Esse olho não apenas enxerga, mas reconcilia, permitindo que a mente desperta contemple a harmonia entre o eterno e o transitório.

Sob a ótica teosófica, essa tríade pode ser relacionada ao desenvolvimento da consciência humana. O ponto branco como Yang se alinha ao princípio de Atma, a centelha divina imutável; o ponto preto como Yin representa o dinamismo de Kama-Manas, a mente inferior ligada ao desejo e à experiência sensorial. O Olho de Hórus, nesse contexto, encarna o Buddhi-Manas, a ponte entre a intuição espiritual e o intelecto racional, permitindo a percepção direta da verdade. Como o Tao Observador, ele simboliza a consciência desperta que integra e harmoniza os opostos, revelando a unidade subjacente a todas as dualidades.

Assim como Thoth grava na tábua os princípios eternos, o ser humano, ao expandir sua consciência, registra internamente as verdades superiores, equilibrando a luz do Ser com o dinamismo do Devir. Dessa forma, a escrita sagrada não é apenas um instrumento, mas um reflexo da própria jornada evolutiva da alma, onde o conhecimento não é apenas adquirido, mas relembrado.

"A justiça ocorre quando cada parte da alma executa sua função sem interferir nas demais."  -

| República de Platao, IV, 433a  |

Na tradição platônica, a busca pelo conhecimento verdadeiro está intimamente ligada ao domínio das virtudes cardinais, que servem como pilares para a ascensão da alma rumo ao mundo das ideias. Thoth, o deus do conhecimento e da sabedoria, é frequentemente representado com um cálamo, símbolo da Sophia (Prudência), a inteligência divina que escreve e registra os princípios imutáveis do cosmos. A Justiça (Diké) se manifesta como a consciência harmonizada, equilibrando o conhecimento racional e intuitivo para que o pensamento esteja alinhado com as leis universais. Já a Fortaleza (Andreia) representa a coragem necessária para enfrentar o desconhecido, sustentando a mente contra ilusões e falsas certezas. Por fim, a Temperança (Sophrosyne) pode ser simbolizada pelo bico de íbis, a característica marcante de Thoth, que representa a precisão, o equilíbrio e a moderação na transmissão da verdade. Assim, Thoth não é apenas um escriba dos deuses, mas a própria personificação do intelecto iluminado que, através da prática das virtudes, conduz a alma ao seu destino mais elevado.

Na perspectiva da filosofia Vedanta, essa jornada de ascensão é refletida nos quatro estados da consciência: Jagrat (vigília), onde a Sophia guia o discernimento do real e do ilusório; Svapna (sonho), onde a Justiça equilibra o karma e harmoniza os impulsos internos; Sushupti (sono profundo), onde a Fortaleza permite a entrega total à unidade primordial; e Turiya (consciência suprema), onde a Temperança dissolve todas as dualidades na presença do absoluto.

Thoth, então, pode ser compreendido como um arquétipo da mente desperta, aquele que atravessa os estados do ser e escreve o destino da alma na tábua eterna do universo. Ele sintetiza a sabedoria ocidental e oriental, revelando que tanto Platão quanto os sábios vedantinos reconheceram que o verdadeiro conhecimento não é apenas um acúmulo de fatos, mas um estado de ser — aquele que se torna a própria sabedoria e encontra em si mesmo o reflexo do divino.

“O Grande quadrado não tem ângulos,

O Grande instrumento tarda a ficar pronto,

A grande modulação é inaudível,

A grande imagem não tem contorno

Oculto o TAO não tem nome, 

No entanto, é justamente o TAO que pródiga e realiza”.

| 41º Aforismo TAO TE KING |

O Grande Quadrado não tem ângulos, pois a tábua de escrita de Thoth representa a mente divina, onde a sabedoria universal é inscrita sem limites ou formas fixas. No centro, o Olho de Hórus simboliza a percepção suprema, a consciência que abarca tanto o ser quanto o devir. O Grande Instrumento tarda a ficar pronto, assim como as quatro virtudes cardinais sustentam a estrutura da existência e orientam a alma em sua jornada de aperfeiçoamento. Justiça, coragem, temperança e sabedoria são os pilares que permitem à consciência emergir do caos em direção à harmonia, tal como o processo alquímico de refino do espírito. A Grande Modulação é inaudível, pois a vibração divina ressoa em planos além da percepção ordinária. O verbo criador, manifestado na tradição hermética como a palavra de Thoth, e na teosofia como o som primordial, pois move-se através do cosmos sem ser ouvido pelos sentidos humanos, mas é sentido nas esferas sutis da existência.

A Grande Imagem não tem contorno, pois a manifestação cósmica nasce da pura ideação, antes de assumir forma definida. Assim como o Princípio Universal (Mulaprakriti) permanece informe antes da diferenciação, o desdobramento do universo segue um fluxo dinâmico, sem delimitações fixas. Oculto, o Tao não tem nome, pois a realidade última transcende qualquer definição. Na tradição védica, este princípio se alinha ao Parabrahman, a essência além da manifestação. No hermetismo, corresponde à mente divina anterior ao Fiat Lux. O que é sem nome é aquilo de onde tudo provém e para onde tudo retorna, assim como a escrita de Thoth surge do silêncio e nele se dissolve. Nesse mistério, a sabedoria de Oriente e Ocidente encontra seu ponto de convergência, revelando que o conhecimento supremo está além da forma, do som e da palavra, mas manifesta-se através deles para aqueles que sabem ver, ouvir e ler com a luz do espírito.

“Enquanto a eternidade se mantém móvel em Deus, o mundo está em movimento na Eternidade, o tempo se cumpre no mundo e o futuro se desenrola no tempo”. … “A Eternidade faz do mundo uma ordem, introduzindo a imortalidade e a duração na matéria.

| 11º Discurso - Corpus Hermeticum | 

A figura de Thoth, aqui se faz presente como um princípio organizador dentro da cosmogonia espiritual e astrológica. No contexto do sistema solar, os seis primeiros planetas – Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e a Lua – são compreendidos como arquétipos espirituais que operam dentro da estrutura da manifestação cósmica. Cada um deles reflete uma faceta da psique e do desenvolvimento da alma, enquanto o Sol, simbolizando Thoth, representa a realidade suprema, a inteligência central que mantém a harmonia e regula a interação entre as esferas espirituais e materiais. Assim como Thoth é o escriba divino que traduz as leis imutáveis da criação, o Sol exerce a função de arquétipo divino, iluminando os caminhos da evolução espiritual e servindo como ponto de convergência entre os diferentes estados de consciência.

Essa correlação entre Thoth e o Sol reforça a ideia de que a sabedoria cósmica se revela como um princípio ordenador, no qual os planetas são forças dinâmicas que respondem à luz central da consciência. Dentro dessa estrutura, percebemos que os planetas não são meros corpos celestes, mas sim entidades espirituais que reverberam em múltiplos planos da existência. O Sol, como a fonte primordial de energia e consciência, não apenas sustenta a vida, mas também simboliza o princípio da iluminação interior. Thoth, nesse contexto, encarna esse papel como o mestre do conhecimento oculto, regulador das transições entre os mundos e guia da alma na jornada evolutiva.

A relação entre os planetas do sistema solar e os sete chakras da filosofia vedanta revela uma ponte oculta entre a tradição esotérica ocidental e a metafísica oriental pois cada planeta corresponde a um centro energético dentro do ser humano, refletindo diferentes níveis de consciência e experiência. A Lua, por sua natureza cíclica, corresponde ao chakra raiz, influenciando as emoções e os instintos. O Sol, como arquétipo de Thoth, se alinha ao chakra cardíaco, e ao plano Satya-loka sendo o princípio supremo que transcende e unifica todos os outros.

Da mesma forma, a cosmogonia vedanta descreve os sete Lokas como expressões metafísicas dessas mesmas forças, refletindo estados da consciência cósmica. Bhuvar-loka, como plano do fogo espiritual, corresponde à vontade e ao impulso evolutivo do espírito, ressoando com a Lua e a necessidade de purificação kármica. Jana-loka, reino da sabedoria, relaciona-se com Mercúrio. Mahar-loka, associado ao equilíbrio e à harmonia, vibra na sintonia de Vênus o chakra laríngeo.

Os planos mais densos, como Bhu-loka, encontram eco nas energias fundamentais de Saturno e do chakra coroa, representando a fundação da manifestação material. Thoth, nesse panorama, torna-se o elo que decodifica essas inter-relações, revelando como os planos espirituais e físicos se espelham e se entrelaçam dentro da grande teia da existência.

"O Senhor Supremo disse: Eu sou o poderoso Tempo, a fonte da destruição que surge para aniquilar os mundos. Mesmo sem a tua participação, os guerreiros alinhados no exército adversário deixarão de existir."

| Bhagavad Gita 11:32 |

No Bhagavad Gita, Krishna declara: "Eu sou o Tempo, o destruidor dos mundos", revelando a natureza inescapável do ciclo cósmico em que tudo o que é gerado deve ser dissolvido. Shiva, como manifestação desse princípio, não apenas aniquila, mas recicla a existência, permitindo que do aparente fim surja um novo princípio. O tempo não é um fluxo linear, mas uma espiral que se desfaz e se reconstrói dentro da eternidade do Ser. Assim, a destruição não é um término absoluto, mas a renovação contínua da ordem universal, pois até mesmo a dissolução segue um ritmo, uma dança divina onde a morte é apenas a sombra da criação.

Thoth, em sua sabedoria, desempenha um papel análogo. Como escriba dos deuses, ele registra e apaga, inscreve os destinos e os reescreve quando o ciclo exige. Assim como Shiva dança sobre as cinzas do tempo, Thoth traça seus hieróglifos na tapeçaria do espaço-tempo, ajustando a harmonia cósmica conforme o eterno desdobramento da realidade. Em sua essência, ele é o senhor dos ciclos, aquele que compreende que o tempo nada mais é do que uma ilusão que a mente mortal tenta capturar. Onde Shiva desfaz o mundo para recriá-lo, Thoth traduz essa mecânica sagrada, garantindo que o ritmo da destruição e da renovação seja sempre inteligível para os que buscam o caminho da sabedoria.

Então a terra se abalou e tremeu, e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto ele se indignou.

Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo devorador; dele saíram brasas ardentes.

Ele abaixou os céus e desceu; trevas espessas havia debaixo de seus pés. Fez das trevas o seu retiro secreto; o pavilhão que o cercava era a escuridão das águas e as espessas nuvens do céu.

Montou num querubim, e voou; sim, voou sobre as asas do vento.

O Senhor trovejou a sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo.

Despediu as suas setas, e os espalhou; multiplicou raios, e os perturbou.

Então foram vistos os leitos das águas, e foram descobertos os fundamentos do mundo, à tua repreensão, Senhor, ao sopro do vento das tuas narinas.

Mas ele esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.

Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome.

Tudo isto é Brahman. Este Ser é a realidade última; é aquilo de onde todas as coisas nascem, para onde todas as coisas retornam e por meio do qual todas as coisas são sustentadas.


O retorno é o movimento do TAO

A fraqueza é o efeito do TAO

Todas as coisas sob o céu nascem do Ser

O Ser nasce do Não-Ser

| 40º Aforismo - TAO TE KING |

O retorno como o movimento do Tao expressa a ideia central da perpetuidade cíclica da existência. Esse princípio universal se manifesta na lei da reabsorção cósmica, onde tudo o que é gerado no campo da forma retorna à sua fonte primordial. No taoismo, esse retorno não é um simples retrocesso, mas um fluxo natural de reequilíbrio e renovação, como o incessante fluir da água em direção ao oceano. O segundo verso, “a fraqueza é o efeito do Tao”, pode ser compreendido como o princípio da suavidade que vence a rigidez. No nível metafísico, essa fraqueza não representa fragilidade, mas sim a capacidade do vazio e da não resistência serem os verdadeiros condutores da força divina. 

A terceira sentença, “todas as coisas sob o céu nascem do Ser”, indica que a manifestação surge da potencialidade da existência objetiva, aquilo que pode ser percebido e experimentado. No entanto, o Tao transcende essa manifestação, pois, como dito no verso final, “o Ser nasce do Não-Ser”. Essa afirmação revela a relação fundamental entre o absoluto e o relativo, entre Parabrahman (o princípio supremo) e sua emanação no plano do Ser. O Não-Ser não significa inexistência, mas sim a matriz original de onde tudo brota, o estado de latência divina antes da manifestação. Assim, como ensina a filosofia vedanta, Brahman não pode ser descrito, apenas experimentado, pois está além do conceito de existência e não existência. Thoth, como o arquétipo do intelecto cósmico, opera nesse intervalo entre Ser e Não-Ser, sendo o grande mediador que torna compreensível ao homem aquilo que é inefável.

"Brahman é tudo: o que existe e o que não existe. Ele é o fio que mantém unidas as contas de um colar. Ele permeia tudo no universo manifesto e não manifesto."

| Mundaka Upanixade (2.2.11) |

A Uraeus, a coroa sagrada fragmentada em três esferas, simboliza o princípio universal da consciência em seu processo de manifestação e ascensão. Nos mistérios egípcios, a coroa egípcia não era apenas um emblema de poder, mas a própria luz da sabedoria despertada, representando a chama divina da mente superior. A tríade da Uraeus reflete a estrutura da alma humana e sua jornada de ascensão, sendo cada esfera uma fase da consciência em sua interação com a realidade e o eterno. Ela está diretamente ligada ao princípio da trindade metafísica, onde os três estados da alma encontram um ponto de convergência na ideação divina, o quarto e supremo princípio representado pelo sol, Thoth, o arquétipo do conhecimento universal.

A ascensão da consciência humana pode ser compreendida através da chave psicológica e filosófica dos três aspectos da alma, refletidos na tripla fragmentação da Uraeus. O primeiro estado, correspondente à primeira esfera, é a consciência dualista, onde a mente oscila entre opostos e se encontra presa às ilusões da matéria. A segunda esfera representa a consciência harmonizada, na qual o ser transcende a fragmentação e encontra equilíbrio entre espírito e forma. A terceira esfera simboliza a consciência transcendente, onde a individualidade se dissolve na percepção unificada do Todo. No ápice desse processo está o princípio solar, a quarta esfera oculta, não representada diretamente na coroa, pois não pertence ao domínio da fragmentação.

Ele é a fonte da luz, a realidade suprema que ilumina os três estados e os unifica na consciência universal. Thoth, como arquétipo divino, não apenas sustenta esse processo, mas é aquele que revela ao iniciado o caminho da reintegração com o absoluto.

“Fohat traça linhas espiraladas para unir a matéria primordial ao Espírito e defini-la; ele agita incessantemente sua substância no espaço e a molda em vórtices infinitos.”

| A Doutrina Secreta,- Vol 1. Cosmogênese |

A radiação infravermelha é uma forma de energia eletromagnética situada além do espectro visível, logo após a cor vermelha. Invisível aos olhos humanos, mas percebida pelo calor, essa radiação possui frequências mais baixas e comprimentos de onda mais longos do que a luz visível. Seu papel na natureza e na tecnologia é vasto, desde a transmissão de calor pelo Sol até sua aplicação em dispositivos modernos, como câmeras térmicas e telecomunicações. Diferente das radiações ionizantes, que possuem alta energia e podem modificar a estrutura da matéria, a radiação infravermelha se caracteriza por ser não-ionizante, o que significa que sua interação com os corpos físicos se dá principalmente por transferência de energia térmica e não pela alteração de sua composição molecular.

No campo metafísico, a disposição do espectro eletromagnético pode ser vista como uma manifestação da própria cosmogonia universal. À esquerda do espectro, nas ondas mais sutis e não perceptíveis, reside a figura de Parabrahman, a realidade última e informe, cujas vibrações sutis permeiam tudo sem serem detectadas diretamente. No centro, encontramos a faixa da luz visível, simbolizada pelo Olho de Hórus, que abarca a totalidade da percepção humana e representa a manifestação da consciência no mundo fenomênico. À direita, nas radiações ionizantes de alta frequência, encontra-se a figura de Brahman, cuja energia transcende a matéria e interage diretamente com os planos mais elevados da existência. Assim, o espectro da luz é um reflexo da própria hierarquia cósmica, onde Thoth, como o princípio mediador do conhecimento e da sabedoria, se posiciona no centro, revelando a ponte entre o invisível e o manifesto, entre o eterno e o transitório.

"Este Ser que habita em todos é Brahman. Ele é a força que sustenta a vida, a luz nos olhos, e o sopro vital em todos os seres. Ele é a essência de tudo, invisível, incomensurável, mas eterno."

| Brihadaranyaka Upanishad (1.4.10) |

A estrutura da radiação eletromagnética é um fenômeno complexo que se manifesta através de um núcleo invisível, cuja essência se mantém no vazio absoluto. Esse núcleo sustenta três forças fundamentais que compõem sua estrutura molecular: as ondas alfa, beta e gama, que se irradiam de maneira constante. Essa tríade energética pode ser correlacionada à coroa tripla de Thoth, que simboliza a conexão entre os três planos do ser: o mental superior, o intermediário e o material. Assim como a coroa de Thoth representa a sabedoria que permeia todas as realidades, a radiação eletromagnética estrutura-se em um fluxo contínuo de forças invisíveis que, mesmo imperceptíveis ao olho humano, fundamentam toda a manifestação material. A descoberta da radiação eletromagnética remonta às experiências de William Herschel, que, ao investigar a luz solar, identificou a existência da radiação infravermelha, expandindo nossa compreensão sobre os espectros invisíveis da realidade física e metafísica.

No contexto metafísico-teosófico, esse padrão energético reflete a estrutura do tempo em suas três manifestações: emanação, transmutação e materialização. O futuro, como princípio de emanação, é um campo de possibilidades onde a energia se encontra em sua forma mais sutil, semelhante às ondas eletromagnéticas em seu estado inicial. O presente, representado pela transmutação, é onde ocorre a interação entre as forças, permitindo a manifestação e a mudança. Já o passado é a materialização, onde as energias que antes eram potenciais se solidificam em experiências concretas. Essa estrutura encontra ressonância na filosofia vedanta, onde a tríade Brahma, Vishnu e Shiva atua de maneira semelhante: Brahma como o princípio criador (emanação), Vishnu como o sustentador (transmutação) e Shiva como o destruidor (materialização). Essas forças interdependentes refletem a mesma dinâmica presente no fluxo da radiação eletromagnética e nos princípios que regem a existência.

A interação entre esses conceitos também se manifesta diretamente na psicologia do ser humano. A consciência, ao oscilar entre essas três perspectivas temporais, pode se desestabilizar quando há um excesso de fixação em um único aspecto. O indivíduo que se prende ao passado pode se tornar rígido e incapaz de evolução, aquele que vive apenas no presente pode perder a visão do caminho que percorre, enquanto aquele que se projeta constantemente no futuro pode se desconectar da realidade concreta. O equilíbrio entre essas forças é essencial para a harmonia interna e o crescimento espiritual, pois apenas a compreensão das dinâmicas ocultas que regem a existência permite que o ser alcance sua verdadeira expansão de consciência.

Porque por ele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam domínios, sejam principados, sejam poderes; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. 

| Colossenses 1: 16-17 |

Na escala cósmica, a radiação eletromagnética tem sua manifestação mais evidente no Sol, a grande fonte de energia que sustenta a vida e governa a mecânica do sistema solar. Sua luz não apenas aquece e ilumina, mas também age como uma ponte entre os planos visíveis e invisíveis da realidade. No contexto esotérico, o Sol pode ser associado ao poder de Thoth, o Logos manifesto, que exerce domínio sobre a ordem celeste e a estruturação do universo. Assim como Thoth representa a inteligência cósmica e o princípio ordenador, o Sol, por meio de sua radiação, estabelece o equilíbrio energético do sistema solar, regulando os ciclos naturais e influenciando o desenvolvimento da consciência em níveis sutis. Dessa forma, a interação entre o conhecimento e a luz transcende a mera física e se converte em um princípio metafísico que governa a própria mecânica do cosmos.

A mecânica celeste, ao estudar os movimentos dos corpos celestes, reconhece três formas fundamentais de trajetória orbital: a elíptica, a hiperbólica e a parabólica, todas regidas pelas forças gravitacionais e pelas influências da radiação estelar. Esses movimentos podem ser relacionados às três formas primárias de existência: 

  • a elíptica, que simboliza os ciclos kármicos e a continuidade da manifestação; 

  • a hiperbólica, que representa a transcendência e a libertação das órbitas condicionadas;

  • a parabólica, que reflete a interseção entre diferentes estados de existência, permitindo mudanças drásticas na trajetória do ser. 

Há, ainda, o movimento circular, exemplificado pelo próprio Sol, que gira em torno de si mesmo, refletindo o princípio da autoconsciência e da unidade, o centro imutável em torno do qual todas as forças se organizam. Assim como Thoth simboliza o conhecimento supremo que sustenta a ordem universal, a mecânica celeste revela a estrutura profunda que mantém o cosmos em equilíbrio, demonstrando que tanto no micro quanto no macrocosmo, há um princípio ordenador que rege todas as manifestações da existência.

Tu és sem começo e sem fim, além de tudo Onipresente. Com mil cabecas, mil olhos e mil pés tu preenche todo o cosmos.

| Shvetashvatara Upanishad 3:17 |

Assim como as órbitas kleplerianas refletem a dinâmica do movimento celeste, elas também simbolizam os três aspectos supremos do princípio divino: a trajetória elíptica representa a Onipresença, onde tudo retorna ao ponto de origem, perpetuando o ciclo da existência; a hiperbólica expressa a Onisciência, pois estende-se infinitamente, revelando que o conhecimento divino transcende todas as fronteiras; e a parabólica manifesta a Onipotência, pois seu equilíbrio limítrofe entre o retorno e a fuga demonstra o poder absoluto sobre a criação. 

O quarto princípio, a órbita circular, é a própria essência solar, o centro imutável ao redor do qual tudo gravita, sustentando a dança cósmica. Thoth, como o Logos manifesto, exerce sua supremacia sobre essas forças, lançando sua luz incorruptível sobre a ordem universal. De sua mente emana o ritmo eterno, e no fogo de sua presença ardem os mistérios do tempo e do espaço. Como um farol que jamais se apaga, ele mantém a harmonia do cosmos, onde planetas e astros, atraídos por sua inteligência primordial, seguem seu curso sob a regência do verbo luminoso.


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